Tapetes Artesanais Brasileiros
A arte de arraiolos é conhecida mundialmente, como uma das mais belas manifestações de artesanato popular, que está presente no Brasil, incorporado ao povo, pela herança secular das famílias brasileiras. Famosos no mundo todo, ainda conservam o fio de origem que os liga aos modelos mais antigos. A decoração dos tapetes compõe-se de um centro ou campo, cujo desenho pode ser de motivos diversos, rodeado por uma barra decorativa em toda a volta, com largura variável, rematada por uma franja pregada de cerca de 4cm de largura. Uma bordadeira eficiente precisa de oito horas de trabalho diário por mês para bordar 1m2.
1) ARRAIOLOS
Vamos de história ....
tapete arraiolo |
Arraiolos: vila alentejana, cuja função remota ao século II a.C, no final do século XV, Arraiolos recebe famílias mouristas que, expulsas por D. Manoel I, de Lisboa, em 1496, ali fixaram-se
Chamam-se tapetes arraiolos não só as tapeçarias fabricadas sob influência dessa região, mas todas aquelas que utilizam o chamado "ponto de arraiolos", também conhecido como" ponto grego" ou "ponto eslavo". Esse pode definir-se como um ponto de cruz modificado que, embora simples, funciona pelo processo de fios contados e obedece ao preceito de correr sempre na mesma direção e não apresentar, pelo avesso, qualquer sinal de arremate.
Exímios artesãos, bem acolhidos pela população local de quem compravam lãs e a quem deram oportunidade de trabalho na fiação das telas, cardação e tingimento das lãs, cedo se dedicaram à manufatura de tapeçaria, seguindo a técnica de bordado de arraiolos. Antigos conhecidos datam do século XVII, denominados tapetes de primeira época, alguns apresentam desenhos ingênuos de carácter popular, enquanto outros exibem sua influência hispano-mourista ou mesmo seiscentista. A partir do século XVII, os tapetes arraiolos sofrem influência persa, não só na transição dos motivos, mas essencialmente nos princípios da manufatura preceitos ainda utilizados.
Desenhos como os ornatos-flores gigantes, as flores de ladão, de palmeira, aves e animais selvagens, introduzidos na segunda metade do século XVII, acabam por decair, dando lugar a outros de origem européia, enquanto a tela de linho, o algodão misturado com cânhamo, ou cânhamo acabam por ceder à juta, tão usada.
A base do bordado era trama de calhamaço de estopa, feita ao tear pelas próprias bordadeiras, durante os sertões de inverno. De igual preparo doméstico era a lã de bordar, que depois de tosquiada, lavada, cardada, fiada, era tingida com a scores pretendidas. As lãs eram coradas à base de quatro produtos naturais: o anil, o lírio, o pau-brasil e o trovisco. Com pau-brasil, obtinha-se o encarnado, o rosa, o cor de carne e roxo, servindo também de preparação para o amarelo torrado e castanho. Os tons de verde obtinham-se mergulhando as lãs em tinta amarela, depois de tratadas de azul. A mesma lã grossa, originariamente empregada, ainda permanece na cobertura de toda a tela, sendo bordada no mesmo ponto original: o cruzado oblíquo em diversas cores, formas e motivos que o tempo faz evoluir para uma composição decorativa mais livre e menos rígida na organização do espaço.
Existe a separação dos motivos pelo contorno, inicialmente executado em ponto de pé de flor, evoluindo para o cruzado oblíquo, contribuindo, no conjunto de todas essas características, os Arraiolos se afirmem no mundo como um dos melhores exemplos de artes tradicionais portuguesas.
Fabricação dos tapetes:
A cidade de Passa Tempo, em Minas Gerais, Brasil, ganhou este nome devido a duas velhinhas que ali fiavam e, ao dar atenção aos que perguntavam o que faziam ali, respondiam: Estamos passando o tempo.
A arte dos tapetes de Arraiolos chegou à cidade em 1965, trazida por um padre católico que se instalou na igreja matriz da cidade. A partir daí ele percebeu a fraca participação das mulheres como força produtiva da cidade, se dedicavam apenas aos serviços domésticos.
Foi então, que no salão paroquial, criou-se um bazar de artesanato, onde foi desenvolvido e lapidado o potencial das mulheres na cidade, rapidamente os tapetes de arraiolos foram tomando espaço na economia da cidade de Passa Tempo.
Hoje a tapeçaria é uma das principais atividades do município.
As fases de produção são: compra do material; confecção da franja; modelagem ( parte da criação, utilizando papel quadriculado como modelo cabendo a quem for desenhá-los, duplicá-los quantas vezes forem necessárias); risco ( esboço do tapete na tela recortada); Alinhamento que define a qualidade do arraiolo; preenchimeto com as cores; acabamento adicionando a franja ao tapete e por fim a engomagem eliminado dobras e deixando uma textura ideal.
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2) BARROCOS
tapete em ponto casa caiada |
Desde 1965, data da confecção das primeiras peças, a filosofia básica da tapeçaria Casa Caiada é criar tradição do tapete brasileiro. O ponto diferenciado do de Arraiolos, dito como Barroco, fez do tapete Casa Caiada uma indústria artesanal muito bem organizada.
Casa Caiada do Recife tem seus motivos inspirados no movimento harmonial pernambucano e na azulejaria portuguesa. Outros centros artesanais, embora mais ligados à confecção de tapetes para o chão, estão localizados em diamantina e no Vale do Jequitinhonha.
Além diso, resgatar o trabalho artesanal para as mãos habilidosas de mais de mil tecelãs, do Nordeste do Brasil, revitalizando assim, uma tradição quase vencida pelo abrupto crescimento industrial da região.
Cada tapete Casa Caiada é tecido artesanalmente, a partir de uma variação de ponto cruz que - a despeito de sua simplicidade, ou em razão dela própria - possibilitou o resgate criativo de diversas linguagens, mantendo um único padrão de qualidade.
O padrão Casa Caiada, hoje reconhecido internacionalmente, é orientado por um projeto bem definido de desenvolvimento de motivos apresentados nas suas cinco principais linhas de produção: azulejaria, floral, marajoara, especial e infantil. O artesão independente de que opte pelo nó barroco está, na realidade, reproduzindo uma Casa Caiada: porém, por sua própria conta, mesmo assim, costuma-se dizer: " teci um tapete Casa Caiada".
Linha azulejaria: Apesar da consciência da importância que o tapete arraiolo tem na história da tapeçaria, foi em outra produção portuguesa que a linha Casa Caiada procurou a inspiração maior, para uma das mais importantes linhas de produção : a azulejaria portuguesa, principalmente do século XVIII. Criando um contraponto e documentando a herança cultural mais marcante da arquitetura colonial do Nordeste do Brasil, a linha azulejaria Casa Caiada transporta para a tapeçaria, motivos elaborados a partir de múltiplos rebatidos, como acontece na própria azulejaria, dentro de uma sobriedade de cores que garante sua harmonia com ambientes clássicos ou contemporâneos.
Linha Floral: Tapetes Gobelin, produzidos na França e na Bélgica desde o século XVIII, reintroduziram os motivos florais na produção do tapete ocidental, com grande sucesso em todo o mundo. Não foi, no entanto, esta óbvia fonte de inspiração que a Casa Caiada procurou para produzir sua linha floral. A arquitetura barroca florentina, a decoração vitoriana e a art noveau francesa e catalã, sem esquecer a recuperação de motivos florais de rico artesanato popular brasileiro, foram o alvo de pesquisa ideal para a Casa Caiada desenvolver sua linha, isso faz a exclusividade dos padrões e cores da linha floral.
Linha marajoara: Trata-se de um artesanato minucioso, bem cuidado com influência de ornatos decorativos dos índios brasileiros, na simplicidade dos frisos ritmados pela composição repetida. Tão importante para a história do tapete, quanto a mais antiga produção persa, são os tapetes maias, também conhecidos como paracas, que embora não atingindo a complexidade da construção persa, traduzem em sua sóbria geometria, a riquesa de uma grande cultura. No Brasil, a civilização marajoara, que mais se aproximou dos padrões decorativos maias, criou na cerâmica, no artesanato e na palha ou em sua arte plumária, uma linguagem gráfica com muita propriedade .
Linha Especial: criada em formas e cores por designers e connaisseurs, a linha especial Casa Caiada traz o novo e o contemporêneo para um espaço onde se deseja sofisticação e exclusividade. À procura de composições em que o equilíbrio entre a forma e a textura gere soluções simétricas ou livres. a Casa Caiada criou a linha especial com combinações de formas e cores que falam por si. Com motivos geométricos ou ecológicos.
Extraído do livro: Arquitetura de Interiores e Decoração, Clarice Mancuso.