Vamos conhecer um pouco mais dessas obras de arte, sim, pois para o´mundo oriental é assim que os tapetas são considerados.
Tapete Persa
Persa Tabriz |
O tapete persa é uma parte essencial da arte e cultura persas. A
tecelagem de tapetes é indubitavelmente uma das manifestações mais
características da cultura e arte persas e remonta à antiga Pérsia.
O luxo, a que se associam os tapetes persas, forma um surpreendente
contraste com sua modesta origem entre as tribos nômades da Pérsia. O tapete
era um bem necessário para proteger-se do inverno rigoroso. Posteriormente,
converteu-se em um meio de expressão artística pela liberdade que possibilita
principalmente a escolha de cores vivas e dos motivos empregados. Os segredos
da tecelagem têm passado de geração em geração. Os artesãos utilizavam os
insetos, as plantas, as raízes, as cascas e outros ingredientes como fonte de
inspiração.A partir do século XVI, a tecelagem de tapetes se desenvolveu até
converter-se em arte;Os tapetes persas podem ser divididos em três
grupos: Farsh / Qalii (para medida superior a 1,80x1,20 metro), Qalicheh
(para medida igual ou menor a 1,80x1,20 metro), e tapetes nômades
conhecidos por Kilim, (incluindo o Zilu, significando tapete tôsco).
A História
Os primeiros tapetes
A arte de tecer tapetes existe no Irã desde os tempos antigos, de acordo
com as evidências e, na opinião de cientistas. Um exemplo de tais evidências é
o tapete Pazyryk de 2.500 anos produzido no período Aquemênida, por volta de
500 a.C..
As primeiras provas documentais sobre a existência de tapetes persas
vieram através de textos chineses que remontam ao período Sassânida (224 -
641).
Esta arte sofreu várias mudanças em diferentes períodos da história
iraniana na medida em que ela passou pela era islâmica indo até a invasão
mongol do Irã. Após a invasão, a arte começou a crescer novamente durante o
reinado das dinastias mongóis dos Timúridas e dos Ilkhanidas.
Com o passar dos anos, os materiais utilizados na confecção dos tapetes,
como a lã, a seda e o algodão, se decompõem. Devido a isso, os arqueólogos
raramente conseguem descobrir algum vestígio útil deles nas escavações
arqueológicas. O que permaneceu dos tempos antigos como evidência da tecelagem
de tapetes não vai além de alguns pedaços desgastados. Esses fragmentos não
ajudam muito no reconhecimento das características de tecelagem de tapetes
anteriores ao período seljúcida (séculos XIII e XIV) na Pérsia.
Período pré-islâmico
Em uma única escavação arqueológica, em 1949, o excepcional tapete
Pazyryk foi descoberto entre o gelo do vale Pazyryk, nas Montanhas Altai, na
Sibéria. O tapete foi encontrado no túmulo de um príncipe cita. Testes com
carbono-14 indicaram que o tapete Pazyryk foi tecido no século V a.C.. Este
tapete tem 2,83 por 2,00 metros e tem 36 nós simétricos por cm². A avançada
técnica de tecelagem usada no tapete Pazyryk indica uma longa história de
evolução e de experiências nesta arte. O tapete Pazyryk é considerado como o
mais antigo tapete do mundo. Sua área central é de cor vermelho escuro e tem
duas grandes bordas, uma representando um veado e a outra um cavaleiro persa.
No entanto, acredita-se que o tapete de Pazyryk provavelmente não
seja um produto nômade, mas sim um produto de um centro de produção de tapetes
aquemênidas.
Registros históricos mostram que a corte aquêmida de Ciro, o Grande
em Pasárgada era decorada com magníficos tapetes. Isto foi há mais de 2500 anos
atrás. É dito que Alexandre II da Macedônia ficou deslumbrado com os tapetes
que viu na área do túmulo de Ciro, o Grande em Pasárgada.
Até o século VI, os tapetes persas de lã ou de seda eram muito
apreciados pelos nobres da corte em toda a região. O tapete Bahârestân,
significando o tapete da primavera) foi encomendado pelo xá sassânida Khosrow
Anušakruwan para a sala principal de audiências do Palácio Imperial da dinastia
sassânida em Ctesifonte, na província de Khvârvarân (atual Iraque). Media 140
metros (450 pés) de comprimento por 27 metros (90 pés) de largura, e seus
desenhos representavam um jardim. Em 637, quando a capital iraniana Tyspawn foi
ocupada, o tapete Baharestan foi levado pelos árabes, cortado em pedaços menores,
e dividido entre os soldados vencedores como espólio.
Segundo os historiadores, o famoso trono Taqdis era também coberto
com 30 tapetes Baharestan especiais representando os 30 dias do mês e quatro
outros tapetes representando as quatro estações do ano.
Período islâmico
Desde o fio de fibras até as cores, cada parte do tapete persa é
tradicionalmente feita à mão a partir de ingredientes naturais ao longo de
muitos meses. Este árduo processo é mostrado no filme nipo/iraniano Kaze no
jûtan (O Tapete de Vento) de 2003, dirigido por Kamal Tabrizi.
No século VIII a província do Azerbaijão esteve entre os maiores
centros de tecelagem de tapetes e carpetes (zilu) do Irã. A província de
Mazandaran, além de pagar impostos, enviou todos os anos 600 tapetes para as cortes
dos califas em Bagdá. Naquele tempo, os principais itens exportados dessa
região eram tapetes e carpetes para serem usados durante as orações. Além
disso, os tapetes de Khorassan, Sistan e Bucara, devido à seus desenhos e
motivos tinham grande aceitação entre os compradores.
Durante os governos das dinastias seljúcida e ilkhanato, a
tecelagem de tapetes era ainda um negócio florescente tanto que o chão de uma
mesquita construída por Ghazan Khan, em Tabriz, região noroeste do Irã, era
coberto com magníficos tapetes persas. Ovelhas eram criadas especialmente para
a produção da fina lã usada para tecer os tapetes. Os desenhos dos tapetes
ilustrados nas iluminuras pertencentes à era Timúrida dão prova do
desenvolvimento desta indústria, nesse momento. Existe também outra pintura em
iluminura daquele tempo, que retrata o processo de tecer tapetes.
Durante esse período foram criados os centros de tingimento
próximos às áreas de tecelagem. A indústria começou a prosperar até o Irã ser
atacado pelos exércitos mongóis.
O tapete persa mais antigo deste período, que chegou até os nossos
dias, é um exemplar da era Safávida (1501-1736), tapete este conhecido como
Ardabil, atualmente no Museu Vitória e Alberto, em Londres. Este tapete muito
famoso tem sido objeto de intermináveis cópias variando de tamanho desde os bem
pequenos indo até os de escalas maiores. Existe um Ardabil na 10 Downing
Street, Londres e até mesmo Adolf Hitler possuía um Ardabil em seu escritório
em Berlim.
Georg Gisze, um comerciante alemão em Londres, 1532, Berlim, por
Hans Holbein, o Jovem.
Os tapetes tecidos em 1539-40 trazem a data da confecção. A base é
de seda e a composição da superfície de lã com uma densidade de nós de 300-350
nós por polegada quadrada (470-540.000 nós por metro quadrado). O tamanho dos
tapetes é de 10,5 x 5,3 metros.
Existe muita variedade entre os tapetes persas clássicos dos
séculos XVI e XVII. Há numerosas sub-regiões que contribuem para as concepções
distintas dos tapetes persas deste período, tais como Tabriz e Kerman. Os
motivos mais comuns incluem os ramos de videira, arabescos, folhas de
palmeiras, conjunto de nuvens, medalhões, e a sobreposição de padrões
geométricos em vez de figuras humanas ou de animais. Desenhos de figuras são
particularmente populares no mercado iraniano e não são tão comuns em tapetes
exportados para o Ocidente.
Chegada na Europa
Segundo Kurt Erdmann, os tapetes do Oriente não chegaram na Europa
antes do século XIII.[13] De fato, nas pinturas de Giotto di Bondone
(1266-1337) aparecem tapetes presumivelmente de origem persa; provavelmente foi
o primeiro a representá-los, seguido de Jan van Eyck (c. 1390 - 1441), Andrea
Mantegna (1435-1506), Anthony van Dyck (1599-1641) e Peter Paul Rubens
(1577-1640). Os tapetes adquiridos pelos europeus eram muito valiosos para
serem estendidos no chão, tal como era costume no Oriente. Os termos usados nos
inventários venezianos mostram que os tapetes eram colocados sobre as mesas
(tapedi da desco, tapedi da tavola) ou cobrindo arcas que serviam de assento
(tapedi da cassa). As pinturas européias confirmam estes usos.
Período moderno
As duas guerras mundiais representam um período de declínio para os
tapetes persas. A produção volta a crescer depois de 1948, e surgem
luxuosíssimos tapetes graças ao incentivo dado pela dinastia Pahlavi. Em 1949,
o governo iraniano organiza uma conferência em Teerã para solucionar os
problemas da queda da qualidade dos tapetes, constatados desde os últimos
sessenta anos (uso de anilina e de corantes ao crômio, queda da qualidade dos
desenhos, uso do nó jofti). Como resultado desta conferência, o governo tomou
uma série de medidas que levaram a uma renovação do tapete persa.
Devido a revolução islâmica a produção de tapetes persas diminuiu
extraordinariamente uma vez que o novo regime considerava os tapetes como um
"tesouro nacional" e proibiu a sua exportação para o Ocidente. Esta
política foi abandonada em 1984, devido à importância dos tapetes como fonte de
receitas. As exportações conheceram um novo avanço no final da década de 1980 e
com o término da guerra Irã-Iraque. Entre março e agosto de 1986, triplicaram
seu valor (de 35 milhões de EUA dólares para 110 milhões) e dobraram seu volume
(de 1154 toneladas para 2845), o que contribuiu para uma queda mundial no preço
dos tapetes.
Atualmente, as técnicas tradicionais de tecelagem estão bem vivas,
apesar da maior parte da produção de tapetes ter-se mecanizado. Os tapetes
tradicionais tecidos à mão são comprados no mundo todo e geralmente são muito
mais caros que os confeccionados à máquina por serem um produto artístico. No
Museu do Tapete do Irã, em Teerã, podem ser vistas muitas peças selecionadas de
tapetes persas.
Nos últimos anos, os tapetes iranianos vêm sofrendo forte
concorrência de outros países que produzem falsificações dos desenhos originais
iranianos. A ausência de registros de marcas e patentes dos produtos originais
é a causa dos maiores problemas com esta arte tradicional, bem como a redução
da qualidade das matérias-primas no mercado local e a conseqüente perda dos
padrões originais. A ausência da moderna Pesquisa e Desenvolvimento, está a
causar o rápido declínio no tamanho e no valor de mercado desta arte.
Fabricação
O tear e as ferramentas
Há quatro tipos de teares: o tear horizontal, o tear vertical fixo,
o tear vertical do tipo Tabriz e o tear vertical feixe do rolo.
·
O tear horizontal é o mais primitivo dos quatro. Na atualidade só o
utilizam os nômades. Consiste simplesmente de duas varas de madeira entre as
quais se esticam os fios de lã no sentido longitudinal. Durante o trabalho, os
fios do urdume se mantêm esticados graças a estacas atadas às extremidades de
cada vara e cravadas no chão. Os tapetes tecidos em teares horizontais são
geralmente pequenos. Este tear é facilmente transportado quando a tribo se
desloca de um lugar para outro.
·
O tear vertical fixo, empregado quase que exclusivamente nos
centros de produção de menor importância, é também um modelo rústico. Trata-se
de uma estrutura vertical cujos travessões suportam as extremidades de duas
varas redondas e paralelas chamadas de "cilindro". Entre estes dois
cilindros se fixam os fios da trama. A tecelagem começa sempre por baixo.
Durante o trabalho, o artesão fica sentado em uma tábua que se apóia nas
travessas dos andaimes fixados nos travessões verticais do tear. Conforme a
tecelagem avança, a tábua que serve de assento deve elevar-se ao mesmo tempo em
que o tapete. Este tipo de tear é usado para tapetes cujo comprimento não
ultrapasse ao do tear, que é geralmente de três metros.
·
O tear chamado de Tabriz representa um aperfeiçoamento do tear
vertical. Foi inventado pelos artesãos desta cidade iraniana. É utilizado em
todas as partes dos grandes centros de produção no Irã. Neste tipo de tear, os
fios do urdume vão se enrolando do cilindro superior para a bobina inferior,
sob a qual passam antes de voltar para o cilindro superior. Este sistema
apresenta a vantagem de poder tecer peças de igual tamanho até duas vezes a
altura do tear.
·
O último tipo de tear, de feixe do rolo, representa a versão mais
desenvolvida do tear vertical. Todo o fio do urdume necessário para a tecelagem
do tapete está enrolado no cilindro superior, de maneira que na bobina inferior
se enrola o tapete conforme vai se avançando o trabalho. Este tear permite
confeccionar tapetes de qualquer comprimento.
As ferramentas utilizadas na confecção de um tapete são poucas e
muito simples. A faca serve para cortar o fio depois que cada nó é amarrado;
totalmente de metal, às vezes está dotada de um gancho que serve para separar
as costas da urdidura ao amarrar um nó e então retirar o fio através das costas
da urdidura (principalmente no Tabriz). O pente ou carda é feito de várias
lâminas de metal cujos extremos se separam para formar os dentes. Depois que a
conclusão de uma fileira dos nós é tecida e de passar uma costa da trama
através das urdiduras, a costa de trama e a fileira dos nós são batidas com o
pente. O pente é movido para cima e para baixo através das costas da urdidura,
pressionando a costa de trama no alto dos nós que fixam os nós no lugar. As
tesouras, planas e largas, são usadas para o corte depois que uma fileira foi
tecida desigual em um espaço muito pequeno. E são usadas constantemente pelos
artesãos.
As matérias-primas
Os materiais necessários para a confecção de um tapete persa são: a
lã, a seda e o algodão. A lã e a seda são usadas principalmente para o veludo
do tapete, e raramente na urdidura e trama, que normalmente são de algodão. A
lã de ovelha é a mais usada, principalmente a de fibra larga (extraída do peito
e das costas do animal). A lã de cordeiro é também muito apreciada. Chama-se
kurk a lã de boa qualidade, e de tabachi a de qualidade inferior. As lãs mais
requisitadas procedem de Khorasan ou das tribos luras e curdas.
O algodão é usado exclusivamente para a urdidura e a trama. Em
certos tipos de tapetes, como os de Qom ou de Nain, o veludo da lã é mesclado
com um fio de seda. Nos tapetes mais valiosos o veludo é de seda. Em alguns
tapetes antigos são utilizados fios de ouro, de prata ou de seda rodeados de um
fio de metal precioso.
Atualmente, a urdidura e a trama são sempre de algodão (exceto para
alguns tapetes nômades totalmente de lã), porque é mais sólido e resistente e
permite uma melhor manutenção do tapete.
Os corantes
A diversidade tão grande de cores dos tapetes persas é, em grande
parte, responsável por seu prestígio.
A lã para ser tingida é colocada primeiro em um banho concentrado
de alúmen (pedra-ume), que atua como mordente. Depois, ela é tingida com um
corante e finalmente, é colocada para secar ao sol.
Antes do surgimento das tintas sintéticas (a anilina foi descoberta
em 1856 e o surgimento dos corantes na Pérsia ocorreu no final do século XIX),
os tintureiros utilizavam somente tintas naturais, provenientes de substâncias
vegetais. Algumas das tintas empregadas eram:
·
O vermelho obtido da raiz da rubia, que cresce silvestre em grande
parte do Irã.
·
As folhas do índigo davam um azul que podia ser muito escuro, quase
negro.
·
As folhas da videira proporcionavam os amarelos, também obtidos a
partir do açafrão (cor mais delicada), cultivado em Khorasan.
·
O verde era obtido misturando o azul e o amarelo com o sulfato de
cobre.
·
As cores naturais da lã proporcionavam os cinzas e o marrom, que
podem também serem obtidos da casca da noz.
·
A lã natural de ovelha ou o pelo de camelo negro é utilizado para a
cor preta, para o qual é usado também o óxido de ferro contido nas galhas que
atacam os carvalhos.
Hoje em dia, a maioria dos tintureiros usam corantes sintéticos
(exceto entre os nômades, que ainda usam as tintas naturais); muitos deles são
corantes à base de crômio, que possui mais vantagens que a anilina e tem
permitido diminuir os custos.
Em certos tapetes, e em alguns lugares ou no fundo, é possível que
a tintura se altere. Esta mudança de cor chama-se abrash, e é a prova de que o
tapete foi tingido com tintas vegetais.
A urdidura e a trama
A urdidura é o conjunto de fios verticais tensionados entre os dois
extremos do tear. As franjas do tapete são os extremos dos fios da urdidura.
A trama é constituída de um ou mais fios transversais (geralmente
dois, um frouxo e outro tenso), dispostos entre duas fileiras de nós. A trama
serve para apertar os nós em fileiras paralelas e garantir a solidez do tapete.
A trama é apertada com um pente especial (ver imagem mais acima).
Os nós
Há dois tipos de nós: o ghiordes ou turkbâf (também conhecido por
"nó turco" ou "simétrico") e o nó senneh, ou farsbâf
(também conhecido por "persa" ou "assimétrico"). O turkbâf
é usado principalmente na Turquia e no Cáucaso. O farsbâf (fars significa
"persa") é utilizado principalmente na Pérsia.
·
No turkbâf, a fibra de lã se enrola ao redor dos fios da urdidura,
de maneira que se forma uma espiral cujas extremidades voltam a aparecer entre
os dois fios (ver esquema ao lado).
·
No farsbâf, a fibra de lã forma uma única espiral ao redor de um
dos dois fios da urdidura.
Alguns tecelões, querendo ganhar tempo (ainda que com a perda da
qualidade do tapete), juntam as fibras de lã em dois fios da urdidura. Esses
nós são chamados então de turkbâf jofti ou farsbâf jofti (também conhecidos por
"nó duplo" ou "falso"). Assim, o tecelão dá apenas metade
do número de nós, diminuindo a espessura da felpa e enfraquecendo a estrutura e
o desenho do tapete.
O artesão começa sempre tecendo uma ourela debaixo do tapete. A
ourela é uma borda apertada feita de muitos fios da trama que impede que o
tapete se desfie ou que os nós se soltem. Quando se termina a ourela, pode-se
começar o trabalho de atar. Cada fibra de lã se une a dois fios contíguos da
urdidura. São estas fibras de lã que formarão o "veludo" do tapete.
Quando se termina uma fileira, o tecelão passa um fio da trama, uma vez pela
frente, outra por trás, de cada fio da urdidura. Depois de cada nó, o tecelão
corta a fibra de lã a uns sete centímetros do nó e a vira para baixo; isto
determina o "sentido" do tapete. De fato, uma das características dos
tapetes persas é que parecem totalmente diferentes segundo o ângulo de visão e
a incidência da luz.
A cada quatro ou seis fileiras, o artesão realiza um primeiro corte
do veludo. Somente quando se termina de atar o tapete é que se iguala a
superfície do veludo. Se o tapete é de boa qualidade, corta-se bem rente. Ao
contrário, corta-se mais longo se a qualidade for menor.
É a qualidade da atadura que determina a qualidade e o preço de um
tapete persa. Um tapete de qualidade média contém 2.500 nós por decímetro
quadrado, um tapete de baixa qualidade somente 500 nós por decímetro quadrado.
Um tapete de excelente qualidade pode conter até 10.000 nós por decímetro
quadrado.
Os tamanhos
·
Ghali (literalmente "tapete"): designa os tapetes
de grandes dimensões, de mais de 190x280 centímetros.
·
Dozar ou Sedjadeh: empregados indiferentemente. O nome procede de do,
"dois" e zar, uma medida persa correspondente a aproximadamente 105
centímetros. Estes tapetes medem uns 130-140 cm de comprimento por 200-210 cm
de largura.
·
Ghalitcheh: Tapete do mesmo tamanho que os precedentes, mas de melhor
qualidade.
·
Kelleghi ou Kelley: tapete de formato alongado que mede cerca de
150-200x300-600 cm. Este tapete localiza-se tradicionalmente na cabeça (kalleh
significa "cabela" em persa) de um tapete (ghali).
·
Kenareh: formato também alongado, porém de tamanho menor; 80-120 cm x
250-600 cm. Tradicionalmente é colocado ao lado (kenar significa
"lado" em persa) de um tapete maior.
·
Zaronim: corresponde a um zar e meio. Ou seja, estes tapetes medem uns 150
cm de largura.
A diferença entre o tapete turco e o persa
A diferença entre o tapete turco (ou da Anatólia) e o persa é
apenas uma questão de técnica de tecelagem e da tradição no emprego dos motivos
decorativos.
Tipicamente, um tradicional tapete persa é amarrado com um único nó
assimétrico (nó persa ou senneh), enquanto que o tradicional tapete turco é
amarrado com um nó duplo simétrico (nó turco ou ghiordes). Isto significa que
para cada carreira vertical de fio em um tapete, o turco tem duas voltas em
oposição a uma volta dos vários tapetes persas que utilizam o nó único persa.
Finalmente, o processo de nó simétrico usado no tapete tradicional turco dá a
impressão de que a imagem é construída por módulos em comparação com o tapete
persa tradicional de nó simples cujo desenho é muito mais delicado. O estilo
tradicional turco reduz também o número de nós por metro quadrado. Estes
fatores contribuem para criar a antiga e internacional reputação da qualidade
dos tapetes persas.
Hoje, é comum ver tecelagens de tapetes, tanto na Turquia quanto no
Irã, usarem qualquer um dos dois estilos de nó. Quando se comparam os tapetes,
a única maneira de definitivamente identificar o tipo de nó usado é dobrar o
tapete horizontalmente e olhar a base do nó.
Arquitetura de um tapete
Como se trata de uma obra de arquitetura, o tapete é confeccionado
a partir de um plano (chamado cartão), que mostra a composição, a disposição da
decoração e a dos motivos. Um mestre (em persa: ostad), não obrigatoriamente um
tecelão, mas sim, quase um pintor, desenha o cartão. O esquema de um tapete
reproduz muitas vezes o de uma encadernação de manuscrito; ambas as artes estão
intimamente ligadas já que seus desenhistas são muitas vezes os mesmos
pintores.
Distinguem-se dois tipos: esquemas orientados e não orientados.
Partes de um tapete
As diferentes partes de um tapete têm os seguintes nomes:
·
Bordas secundárias: podem ser internas ou externas (em relação à borda principal) e
são mais ou menos numerosas e mais ou menos estreitas. Às vezes, as bordas
externas são de uma só cor.
·
Borda principal: completa a ornamentação do tapete e proporciona um equilíbrio ao
conjunto.
·
Campo: é constituído pela parte interna do tapete, delimitado pelas
bordas.
·
Cantos: os cantos são formados pelos ângulos do campo.
·
Medalhão central: os medalhões são de formas variadas: circular, oval, em forma de
estrela ou poligonal.
Esquemas orientados
Distribuem-se ao longo de um único eixo de simetria e impõem um
sentido ao tapete, que só pode ser visto a partir de um único ponto. Os tapetes
figurativos são concebidos muitas vezes desta maneira. Também é o caso dos
tapetes de oração, que têm um campo adornado com um arco ou nicho chamado
mihrab.
Esquemas não orientados
Estes tapetes podem ser vistos de qualquer posição já que seus
desenhos não estão orientados. A decoração é feita de motivos contínuos, ou de
motivos semelhantes repetidos até cobrir a totalidade do campo.
Esquema de motivo centrado
Este tipo de tapete também está desenhado para ser visto de
qualquer posição, mas sua composição possui um elemento central dominante ao
redor do qual se encontram os motivos secundários.
Ornamentação
Tapetes com motivos geométricos
Representam o gosto particular de um artesão ou as tradições de uma
tribo.
Estes tapetes são ornamentados com elementos lineares (linhas
verticais, horizontais e oblíquas). O desenho é muito simples e muitas vezes
formado pela repetição de um mesmo motivo. Os desenhos geométricos são
encontrados geralmente nos tapetes dos nômades, das pequenas cidades da
Anatólia e do Cáucaso. Os motivos geométricos são transmitidos de geração em
geração, e é fácil reconhecer a que tribo pertencem.
Tapetes com desenhos curvilíneos ou florais
São resultantes da evolução da arte islâmica, a que pertencem.
Os primeiros tapetes com desenhos florais foram criados na era dos
Safávidas, e mais concretamente a partir do xá Tahmasp (1523-1576), para
satisfazer os gostos dos Safávidas. A diferença entre os tapetes dos nômades e
os florais deve-se ao papel do mestre (ostad). Ele é quem desenha o cartão que
será reproduzido pelos atadores. Os desenhos dos tapetes dos nômades são
transmitidos pela tradição.
Motivos
Os motivos do campo são um desenho repetido até ocupar toda a
superfície do campo. Os mais conhecidos são os seguintes:
·
o boteh: desenho em forma de amêndoa ou, para alguns, de cipreste. É o mais
conhecido dos motivos empregados na Pérsia.
·
o gol: palabra persa que significa flor. É de forma octogonal.
·
o hérati: motivo composto de uma rosácea central no interior de um losango.
Os vértices do losango são completados com rosáceas menores.
·
o joshagan: formado por uma sucessão de losangos ornamentados com flores
estilizadas.
·
o Kharshiang: caranguejo em persa. Motivo inventado no reinado do xá Abbas.
·
o minah khani: motivo que evoca um campo de flores. É constituído de quatro
flores dispostas de maneira a formar um losango e de uma flor menor no centro.
·
o zil-e sultan: formado por dois vasos sobrepostos ornamentados com rosas e ramos
floridos. Às vezes, há pássaros pousados nos vasos. Sua origem é relativamente
recente (século XIX).
·
Chah Abbasi: sob este nome agrupa-se toda uma série de desenhos inventados
durante o reinado do xá Abbas. Trata-se de ornamentos a base de flores,
inspiradas na flor-de-lis.
Os motivos da borda são os que adornam as laterais do tapete. Os
mais conhecidos são os seguintes:
·
o hérati da borda: são diferentes dos hérati de campo. São compostos de uma
alternância de rosetas e de flores, e de ramos floridos.
·
o boteh da borda: semelhante ao boteh de campo.
·
o borda cúfico: leva este nome devido a sua semelhança com o estilo de escrita de
mesmo nome. Sempre são de cor branca.
·
o borda de folhas dentadas: formado por uma sucessão
de folhas dentadas, dispostas em viés.
Os motivos de ornamentação são desenhos destinados a completar a
ornamentação do campo e a borda. Encontramos os motivos seguintes:
·
a estrela de oito pontas
·
a rosácea
·
a suástica
·
a cruz grega
·
o motivo chamado cão que corre.
As inscrições e as datas aparecem nas bordas de certos tapetes e
são inscrições diversas: versículos do Alcorão, versos, dedicatórias, datas de
fabricação, menção do lugar de produção, etc.
Símbolos e significado
O tapete sempre cumpriu no Oriente uma dupla função, prática e
simbólica, cujo sentido na atualidade se perde às vezes. Constitui um espaço
mágico onde as bordas representam os elementos terrestres erguidos na defesa do
campo, habitado pela esfera do universo e do divino.
Um dos ornamentos mais comuns é a árvore, árvore da vida, que
representa a fertilidade, a continuidade, e serve de ligação entre o subsolo, a
terra e o divino. Este motivo totalmente pré-islâmico é representado, muitas
vezes, nos tapetes de oração persas.
As nuvens, que sob uma forma muito estilizada podem converter-se em
trevos, simbolizam a comunicação com o divino e a proteção divina.
O medalhão central representa o sol, o divino, o sobrenatural. Em
alguns tapetes, os cantos repetem os motivos do medalhão central; estes quatro
elementos passam a ter então o significado de portas de aproximação e de
proteção do centro divino.
O jardim, associado ao paraíso (a palavra deriva do persa antigo
pairideieza que significa jardim, cercado, que originou pardis em persa) dá
lugar a um tipo de composição que aparece a partir do século XVII na Pérsia que
imita os jardins dos xás, divididos em partes retangulares ou quadradas por
alamedas e canais de irrigação (chahar bagh).
Também podem ser encontrados tapetes de tema cinegético: a caça é
uma atividade apreciada pelos xás, que requer destreza, força e conhecimento da
natureza. Este tema também está associado ao paraíso e às atividades
espirituais, uma vez que a caça se desenvolve muitas vezes em uma natureza que
pode invocar os jardins do paraíso. O tapete de Mantes, datado da segunda
metade do século XVI e conservado no museu do Louvre é um bom exemplo.
Tradicionais centros de produção de tapetes no Irã
(Pérsia)
Os principais centros clássicos de produção de tapetes na Pérsia
estavam em Tabriz (1500-1550), Kashan (1525-1650), Herat (1525-1650), e Kerman
(1600-1650).
A maioria dos tapetes de Tabriz tem um medalhão central e outros em
cada um dos quatro cantos sobrepostos a um fundo ornamentado de ramos de
videira, às vezes pontuado com caçadores montados, animais isolados, ou cenas
de lutas de animais. Talvez o mais conhecido dos trabalhos de Tabriz seja a dos
dois tapetes gêmeos provavelmente feitos para o santuário de Ardabil (hoje um
deles se encontra na coleção do Victoria and Albert Museum, em Londres e o
outro no museu da cidade de Los Angeles).
Kashan é conhecida por sua produção de tapetes de seda. Suas obras
mais famosas são os três tapetes de seda que representam cenas de caça com
caçadores a cavalo e suas presas, que são verdadeiras obras-primas, conservadas
nas coleções do Museu de Artes Aplicadas de Viena (o MAK), o Museu de Belas
Artes de Boston e o Museu de Estocolmo. Os tapetes de Kashan estão entre os
mais valiosos atualmente. Sabe-se, por exemplo, que um tapete foi vendido em
1969 na Alemanha por $20 000.
Os tapetes de Herat, ou aqueles com desenhos semelhantes criados em
Lahore, no Paquistão e Agra, na Índia, são os mais numerosos nas coleções
ocidentais. Eles são caracterizados por terem um campo vermelho com ornamentos
de ramos de videira e palmeiras, com bordas verde-escuras ou azuis.
As sete classes de tapetes Kerman foram definidos por sua estrutura
única e denominada "técnica do vaso". Os tipos de tapetes neste grupo
incluem os tapetes de jardins (ornamentados com formas de jardins e canais de
água) e os tapetes de treliças ogivais. Um exemplar bem conhecido e perfeito
deste último tipo foi adquirido pelo Victoria and Albert Museum sob a
orientação de William Morris. A influência dos tapetes persas é bem notada nos
desenhos destes tapetes.
No próximo post veremos os tipos de tapetes
Fonte de pesquisa: Wikipédia